segunda-feira, 8 de abril de 2013

Respirar amor aspirando liberdade...


Amei esta entrevista da Daniela. Concordo demais com ela, não quero que meu amor seja rotulado, quero que ele seja respeitado. Nós precisamos nos entender mais como seres humanos, que são diversos por natureza. Uns mais, outros menos. E a sociedade precisa aprender a incluir essas diferenças e não tentar muda-las. 



Eu sou diferente, sim. Nasci assim, eu sou feliz como sou. Se não gosta do meu Eu, a porta serve a casa. Já fechei milhares. Uma a mais ou a menos é lucro. Mas não renego minha felicidade pelo conforto de uns. Se meu beijo te incomoda ou você não sabe explicar para o seu filho porque dois homens ou duas mulheres se beijam, tenho uma péssima notícia para te dar: se vira para aprender. Eu tive que aprender a enfrentar preconceito e maldade gratuita, então aprender a explicar um tipo diferente de amor não deve ser mais difícil.


Mauricio


quarta-feira, 27 de março de 2013

Meu sonho


Eu: Olá, senhor. Tudo bom? Está preparado para votar? Dia de festa da democracia, hoje, em?
Senhor: Estou sim, com a ajuda de Deus.
Eu: Que bonitinho. Dá aqui seu RG e seu título de eleitor e os resultados da sua última prova de sociologia e seu teste psiquiátrico.
Senhor: O quê? Teste de que moço? Vije, meu Deus, nunca ví isso não!
Eu: É, as leis mudaram, viu Senhor. Tem que trazer tudinho. Se não, não vota. Se o senhor não tiver tudo em mão, vai ter que voltar outra hora ou, se preferir, pode anular seu voto alí naquela mesinha. É só preencher o formulário de Incapacidade Democrática.
Senhor: Mas pelo amor de Deus, eu moro longe, vou ter que ir até em casa para pegar tudo isso e nem sei se eu tenho esse “coisarada” toda. Por piedade do Senhor.
Eu: Que Senhor? Você?
Senhor: Não, Deus!
Eu: Não o conheço. Sou representante de um Estado laico.
Senhor: Então tú é ateu, né?
Eu: Não, queridão, eu tenho fé. Mas ela fica da porta para fora. Aqui se faz política. Religião a gente pratica na igreja, no terreiro, no templo, no assembleia de sei lá o que.
Senhor: Está entendido. Saquei a sua. Mas eu vou votar hoje de qualquer jeito, você vai ver. Volto em duas horas. Me espere!
Eu: Como o senhor quiser. Próximo.
(Duas horas e meia depois)
Senhor: Tá aqui, o moço. Toda a papelada que você pediu. Teste de sociologia lá do terceiro grau (Ensino Médio) e o teste psiquiátrico que eu consegui lá no posto de saúde depois de uma fila de 30 minutos. Fim do mundo isso, viu?! Posso votar agora?
Eu: Pode, não. Tenho que analisar toda a papelada.
Senhor: PQP... vou sentar ali para esperar.
(05 minutos depois)
Eu: Senhor, por favor, vem aqui.
Senhor: Posso votar já?
Eu: Então, pode não. O senhor votou no Pastor José na eleição passada, certo?
Senhor: É votei, homem muito bom, de caráter com a vida ligada a Deus...
Eu: Tá, tá, tá... então, o senhor cagou!
Senhor: Como é que é? Eu o quê?
Eu: É isso mesmo, o senhor fez cagada, votou no Pastor José lá da sua igreja. O sujeito foi acusado de desviar dinheiro para obras de “caridade” que não eram bem caridade.
Senhor: Como é que tú sabe disso? O voto não é secreto.
Eu: Então, era. Mas estava dando muita cagada, gente que não endente antropologia defendendo direitos humanos, cantor de brega tentando descobrir o que é ser político, senador mosca morta, entre outros casos bem grotescos, viu.
Senhor: Sei?!
Eu: Então, aí, eles mudaram tudo. Se o senhor tiver dúvida em relação às mudanças é só ler tudinho alí naquele apostila.
Senhor: Peraí?! Só porque eu errei uma vez não posso votar nunca mais?
Eu: Não é bem assim, Senhor. O senhor poderá votar novamente em quatro anos. Mas antes, vai ter que fazer um curso de antropologia, ciências sociais, história brasileira, geografia e economia. Depois desse curso – que dura rápido, viu, coisa de dois meses, quatro vezes por semana, exceto sexta, porque ainda somos brasileiros – o senhor vai ter que fazer um teste. Se o senhor for aprovado, ganhará o título de “Cidadão apto a exercer a democracia”. Bonito, não?
Senhor: Mas o que é isso gente, isso não é democracia. Não pode ter seleção de quem pode ou não votar. Tem coisa é errada aí!
Eu: Pelo contrário. O senhor teve o direito de votar em quem quisesse, votou errado e, por isso, colaborou para prejudicar o País, a população e o desenvolvimento da economia. Agora, o senhor precisa ser advertido e reeducado para exercer seu papel na democracia. Tipo dirigir bêbado, sabe?
Senhor: Que porra é essa...
Eu: E digo mais, por esse teste de sociologia aqui, o senhor também ia ser reprovado. Tem que saber qual a função da política na sociedade, meu senhor. Tem que saber o papel de cada cargo político. Deputado não é o homem que recolhe o dizimo, esse é o pastor. Tem erro aqui, veja. Tá vendo?
Senhor: Tô vendo, tô vendo... Mas isso é antigo, moço.
Eu: Se já era ruim há... deixa eu confirmar... 20 anos, imagina agora? Não dá, né? Tem que voltar para escolinha, senhor. Vai naquela fila alí e já se inscreve que hoje tá rápido.
Senhor: Escolinha? E onde é isso, gente?
Eu: Pois é, sabe onde ficavam as auto escolas e CFCs, pois é, é lá. Os CFCs fecharam com a nova a reforma política. Parece que perceberam que era tudo uma roubalheira e resolveram tornar o processo mais eficiente. Agora você paga uma taxa de R$ 50, estuda o livro sobre as leis do trânsito e faz a provinha. Se passar, vai para o teste prático, com o seu próprio carro e em qualquer Detran. Ou seja, acabou essa coisa de auto escola! Auto escola só ensina a dirigir e não se envolve com resultado de provas. Para evitar problemas, sabe?!
Senhor: Gente, quanta mudança.
Eu: Pois é, senhor, já faz dois anos que as coisas mudaram. Toda aquela safadeza política que inclui começar a campanha para o próximo mandato com dois anos de antecedência, sabe, foi para o saco. Aliança política? Foi para o saco. Gente sem conhecimento de leis, política, ciências sociais, direitos humanos e economia? Foi para o saco e NÃO pode se eleger até comprovar a capacidade de exercer cargos públicos.
Senhor: Onde eu estava que não vi isso tudo acontecer?
Eu: O que o senhor lê?
Senhor: Eu assino Veja.
Eu: Aquela da capa em favor da venda de armas à população civil.
Senhor: Acho que sim.
Eu: Tá explicado. Próximo.

Mauricio Miranda

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O burro Homem branco

Quando o Homem branco pisou em território africano, ele encontrou um mundo totalmente diferente do dele. Encontrou homens e mulheres andando sem roupas, religiões exóticas, línguas jamais ouvidas, danças e movimentos irreconhecíveis e uma cor de pele mais escura que a dele. Para os olhos do Homem branco, aquilo só poderia ser uma "raça" inferior de gente que não possui capacidade de pensar e evoluir, como animais irracionais. E, assim como faziam com cavalos, vacas e carneiros, o Homem branco acorrentou aquela "raça" e os fez trabalhar feito bicho no tal mundo civilizado. A coisa era tão séria que até os próprios escravos se consideravam animais inferiores, incapazes de evoluir. Os que percebiam que algo estava errado e tentavam fugir, morriam presos em um tronco enquanto seus corpos eram chicoteados até que os ossos pudessem ser vistos. "Bicho não sente dor", o Homem branco dizia.

O tempo passou e a tal "raça" finalmente ganhou liberdade. Viu-se que eles tinham sentimento, que sabiam amar e eram capazes de rezar e aprender um idioma dito civilizado. Alguns, chegaram a acreditar que a igualdade de direitos finalmente estava estabelecida. Mas não estava. A tal liberdade era limitada por uma ignorância persistente que colocava o negro num limbo, onde raças não se misturavam. Nas ruas, dedos eram apontados àqueles que tentavam viver como os brancos. "Como já se viu exigir o mesmo direito que temos", os brancos denunciavam. "Olha a aquele cabelo, que horror", os brancos julgavam.

Era um desastre para qualquer família quando um jovem anunciava como esposa uma negra ou quando uma garota branca se apaixonava por um negro. "Isso não pode! É como permitir que um homem se case com uma cabra", sentenciava a família vitimada pelo desastre. Para suportar toda aquela "invasão", o Homem branco passou a disfarçar o preconceito ao negro. Nas ruas, eram sorrisos. Mas entre quatro paredes, o negro não era bem vindo, para trabalhar no escritório, o negro não era bem vindo, para alugar um apartamento, o negro não era bem vindo, para doar sangue, o negro não era bem vindo. O negro "livre" continuava a ser excluído.

Para driblar aquela situação, a lei foi chamada a postos. Racismo passava a ser crime. Os colunistas e políticos mais conservadores, gritavam pelas páginas dos jornais que o direito de escolha do Homem branco estava sendo pulverizado. "Onde já se viu não ter o direito de negar a locação de um apartamento a um negro", alguns brancos relinchavam. O negro foi inserido a força na sociedade, da mesma forma como foram tirados de suas origens.

Nos países, onde o negro não desistiu de lutar pelos seus direitos e impor sua importância na sociedade, hoje a igualdade está estabelecida e em prática. Já nos países onde todos aceitaram "o deixa a vida me levar" ou "um dia as coisas melhoram", como o Brasil, amarga-se o sabor de uma sociedade veladamente preconceituosa, que não aceita um chefe negro, que não suporta ver um negro no poder ou dirigindo um carro de luxo. Para alguns, isso é reflexo da ignorância do povo, mas na minha opinião, isso é consequência da burrice desse povo.

Eu justifico: ignorância é ausência de conhecimento, burrice é ausência da vontade de aprender. E, infelizmente, no Brasil há uma epidemia de burros. Por isso, a história com os negros está se repetindo com os gays por aqui. Não porque esses grupos têm trajetórias iguais, pois obviamente não têm. Mas a história se repete na concessão de direitos. O cidadão que é burro não consegue e não quer enxergar a necessidade da criação de leis para estabelecer a igualdade de todos e incluir as minorias. Esse burro cidadão não consegue, ao menos, entender o relacionamento homoafetivo e, por isso, o compara a animais que apenas se relacionam por necessidade sexual, como foi muito bem descrito pela burra coluna da Veja, do burro José Roberto Guzzo (publicada no último domingo, 11 de novembro).

No mundo burro em que J.R. Guzzo vive, gays não precisam ser tratados de forma diferente, pois não são diferentes. No entanto, assim como o negro no fim da escravidão, os gays também (e, ao mesmo tempo) não podem ser tratados de forma igualitária e obter os mesmo direitos dos heterossexuais, como o casamento. Então em que ponto não somos diferentes e em que ponto somos, Sr. Guzzo? Será que somos iguais, quando precisamos pagar impostos? Será que somos diferentes em uma entrevista de trabalho? Será que somos iguais quando compramos uma revista? E será que somos diferentes quando queremos nos casar com quem amamos?

Na minha opinião, o Sr. Guzzo é uma especie rara de burro que ainda tem voz em terra tupiniquim. Para mim, o Sr. Guzzo é aquele velho e ultrapassado Homem branco que não consegue distinguir os seres humanos dos animais irracionais. Triste para ele, que perde a oportunidade de aprender e evoluir. Bom para nós, que identificamos mais um burro para ser esquecido.

Mauricio Miranda



sábado, 10 de novembro de 2012

Mil vezes uma Vera Verão do que um padre


Estava aqui lendo o FB e me deparei com um post, que levou a outro e que terminou nesta matéria antiga sobre a morte de Jorge Lafond. Lendo a reportagem, notei algo óbvio, mas pouco discutido sobre a cultura brasileira, a hipocrisia. É certo que não tenho especialidade em antropologia, sociologia e tampouco viagens ao redor do mundo para entender e discutir todas as diferenças culturais ou criar teses ou teorias, mas até onde vivi e das experiências que tive, sinto-me confortável para encher a boca e dizer que o Brasil é um País que aprecia a mentira e se esbanja de hipocrisia.

Neste País, um padre pode dividir o palco com um sujeito que forja um relacionamento com uma mulher só para justificar a existência dos filhos, que esconde sob o terno uma bicha declarada, que encena uma entrevista com bandidos para elevar a audiência do canal, que bota um monte de piranha de luxo pelada para quase "acasalar" ao vivo na televisão, mas não pode estar no mesmo palco onde um homem, homossexual assumido, está travestido de mulher (sendo esse o personagem com o qual ele ganha a vida), porque não está certo aos olhos da Igreja.

É essa hipocrisia que o brasileiro gosta e valoriza. No Brasil, todo o gay é amado e bem recebido, desde que o relacionamento não saia de quatro paredes, desde que não seja famoso, desde que seja engraçado, desde que não abrace ou beije na frente de ninguém, desde que não "desmonheque", desde que não conte no trabalho, desde que não comente o assunto, enfim: desde que ande na linha. O pior é que os próprios gays aceitam essa situação e preferem viver sem nem tocar no assunto e sem assumir a personalidade que realmente têm. Tudo para não se expor.

Um dia ouvi de um amigo que ele não iria participar do programa de diversidade sexual da empresa onde trabalha, simplesmente porque não queria se juntar a "aquelas bichinhas" e tampouco ser apontado na empresa. De acordo com palavras dele, ele tinha ou tem uma carreira para construir e aquilo poderia prejudicá-lo. Se eu fosse o chefe desse meu amigo, eu preferia mil vezes trabalhar com a bichinha sincera e competente do que com a bicha fria e estrategicamente montada para agradar. Por isso sou mais o Jorge Lafond do que esse padre para lá de duvidoso. No entanto, a Vera Verão se foi e o esse padre ficou e, com ele, a valorização à hipocrisia.

A mesma hipocrisia burra que cagou na cabeça da Marta Suplicy quando ela questionou sobre a família do prefeito Gilberto Kassab. Enquanto os semi-acefalos a atacavam por ser preconceituosa, a real intenção da pergunta estava sendo esquecida. A ex-prefeita não queria atacar a sexualidade de Kassab, até porque ela entende que o cidadão gay também tem família. Ela queria, na verdade, mostrar que não se podia confiar em um candidato que não consegue assumir quem realmente é. E o resultado todo mundo viu. Alguns vão dizer que isso não interessa para a vida pública, que isso não muda em nada a competência do prefeito. Se não muda em nada, então por que não falar sobre o assunto? Qual o problema de ser gay? A reposta é simples, as pessoas não querem lidar com o tema. Porém, não lidar com o tema apenas eleva o preconceito, que, nada mais é, do que a falta de informação e debate sobre o que é ser gay. As pessoas são tão limitadas que não conseguem entender que a questão da homossexualidade é também um problema social, assim como o racismo e a xenofobia.

Para terminar, o que mais me irrita em tudo isso, são esses padres melacuecas que ficam pagando de certinho na televisão, julgando o que é certo e o que é errado e e por trás das câmeras e de toda aquela fantasia, são pessoas sexualmente frustradas e mal resolvidas. Razão a qual digo de novo, prefiro mil vezes um Lafond do que um desses padres nojentos, principalmente esses cheios de botox na cara. Prefiro um Lafond, do que esses atores enrrustidos que trepam garoto de programa e casam com modelo, atriz, cantora, apresentadora. Prefiro uma Vera Verão do que um jogador que come travesti e arrota Panicat. Prefiro um Lafond do que apresentador viado e conivente com padre safado. Prefiro um Lafond vivo do que esse Brasil morto.

Mauricio Miranda

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mãe que ama de verdade

Enquanto tem um monte de mãe brasileira que prefere não ouvir da boca do filho que ele é gay, simplesmente por não querer encarar o fato de frente, a atriz americana Sally Field dá um show sobre o que é ter um filho gay e o que é amor incondicional na prática.

A atriz recebeu o Equality Award, prêmio dado a personalidades que apoiam e lutam pela causa gay.Vale muito a pena ver o discurso dela.

Se todas as mães fossem assim, ser gay seria muito mais fácil...



Mauricio Miranda


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Democracia e Youtube

Há duas coisas maravilhosas no mundo, elas se chamam democracia e Youtube. A democracia garante que qualquer pessoa possa expor sua opinião, lutar pelos seus direitos, fazer política e até virar presidente. Já o Youtube é uma ferramenta que amplia o poder dessa democracia, permitindo que qualquer porcaria ou não porcaria possa ser vista por milhões de pessoas. Algo fantástico, não?

E foi graças às essas duas coisas maravilhosas que eu assisti ao caloroso discurso do senador Magno Malta sobre o Kit Gay que o Ministério da Educação estava tentando implantar. Eu sei que o vídeo é velho, a notícia é velha, o homem é velho e isso tudo já foi discutido há muito tempo. Mas eu não dei minha opinião. Afinal eu não tinha um canal para isso (agora eu tenho este simpático blog :-) e, outra, eu jamais procuraria um vídeo com esse sujeito, nunca me interessei pelo que ele falava, não voto no estado dele (Espírito Santo), então ele e nada eram a mesma coisa. Mas, como eu disse, o Youtube é um negócio bomdemaisdaconta. O bicho é tão bom que durante uma pesquisa sobre o Caetano Veloso me jogou como sugestão o vídeo em que esse senhor repudia o tal Kit Gay. Pensei, vamos ver o que esse senhor tem a falar.

Fiquei muito feliz de ter clicado no vídeo e mais feliz ainda de ter aguentado o discurso até o fim. E, garanto, não foi fácil. Fiquei feliz, pois pude chegar a conclusão o quanto fantástica é a democracia que permite sujeitos com pouco conhecimento exercerem cargos de senador e misturar religião, racismo, machismo e política em uma das mais importantes funções de um estado laico. Isso é algo interessantissimo e que deveria ser analisado com mais profundidade para que as próximas gerações sejam capazes de entender como conseguimos conviver em paz com tamanha diversidade de espécies de ignorantes.

Uma das justificativas é que essas pessoas com pouco conhecimento descobriram um jeito de mostrar que são inteligentes. Eles passaram a discursar de forma emotiva, calorosa e expansiva, usando o tom do discurso para disfarçar a falta de argumento ou para fortalecer argumentos sem embasamento. Perceberam que utilizar as fraquezas, os medos e a fé são artimanhas infalíveis para ganhar a audiência e criar uma verdade, um fato ou uma justificativa. Coisa de gênio, não? Por isso, parabéns ao sr. Magno Malta. Um gênio.

Mas essa espécie de gênio já foi classificada há muito anos, lá na Grécia do Seu Sócrates. Gênio como esse senador são chamados de sofistas, pessoas sem muito conhecimento, mas que sabem persuadir pelo discurso. O melhor de tudo é que há remédio para sofistas. Há a dialética, a análise do discurso e a vergonha na cara. A última é classificada como auto medicação, por isso, jamais será usada. Já a dialética é impossível neste caso, pois os discurso está velho e não permite dialogo direto. Então vamos ficar com a análise do discurso, que não é um procedimento complicado e é excelente para fazer de certos blábláblás de sofista nada mais do que relinche de jegue.

Vamos começar pela Academia de Homossexuais. Inclusive, adorei o nome, Sr. Malta. Super criativo. Quero dizer para o Sr. que estou muito feliz de ter descoberto que sou um gay autodidata, pois nunca frequentei essa tal academia que ensina a ser gay. O Sr. deveria abrir uma só para se auto testar. Pensa só: se é possível ensinar alguém a ser gay, o Sr. pode se tornar uma maricona velha e depois reverter o processo, voltando a ser esse machão lindo que tú é agora. Mas olha, posta tudo no Youtube, não quero perder isso por nada. Mas se o senhor acha que isso é impossível eu te digo o porquê. O Sr. não é gay (thank god), o Sr. nasceu heterossexual... que bonitinho! Esse negócio de virar gay não existe, é coisa que a igreja botou na sua cabeça, vai por mim. Quer saber como eu sei disso? Não fala para ninguém, mas eu nasci gay.

Descobri também que além de ser autodidata não tenho família. Provavelmente sou fruto de um ovo mal chocado que alguma galinha desorientada cagou por aí. Então, pai, mãe, irmãos, tios, etc. vocês não são minha familia, pois segundo Maltinha apoiar o grupo Gay é ir contra o conceito de família. Inclusive, acho engraçado quando o povo usa esse tipo de argumento, isso porque, na minha humilde opinião, família problemática é aquela composta por por um casal em que o homem vai ao cinemão pornô para dar a bunda para um monte de macho e quando chega em casa bate na mulher, com raiva por ser um enrustido. Mas até ai tudo bem, né Maltinha, desde que não se separe da mulher e se mantenha com os filhos, está tudo bem! Por favor, Sr. senador reveja seus conceitos de família, porque família é feita de relações baseadas em sentimentos e não em regras. Ensine algo de útil para seus filhos, ensine que amar e respeitar é um direito de todos.

Maltinha, vi que tú também chamou os gays de aberração. Olha, para mim aberração é um senador que chama um cidadão de aberração, é um senador que não entende o papel que exerce na sociedade, é um senador que usa do seu poder para destilar atitudes covardes. Falta-lhe espelho para entender o que é aberração e não é um espelho para refletir sua face, mas para refletir sua alma, sua sabedoria e seu bom senso. Compre um.

A proposta de criar uma lei anti homofobia não é para obrigar uma criança de nove anos a beijar outra do mesmo sexo. E o senhor sabe disso, pois não precisa ter mais do que um Tico e um Teco para entender a diferença entre legalizar o crime de homofobia e obrigar alguém a ser gay. Até essa criança que você tem na sua casa deve saber a diferença. Mas está tudo certo, pois o seu comportamento é típico de sofista.

Agora tenho que concordar contigo quando diz que o Brasil é um País de hipócritas. Inclusive, a lista desse grupo começa pelos senadores que prometem governar para todos, mas parecem se preocupar apenas com a parte onde bolso deles engorda. E dale ONG, meu povo!

Aproveite também e aprenda uma lição que vai mudar sua capacidade argumentativa. Ser gay não é uma opção ou uma escolha, as pessoas nascem assim. A escolha está em assumir essa sexualidade, deixar de ter medo de pessoas veladamente preconceituosas, como Vossa Excelência. Mas para isso é preciso coragem, pois não há direitos humanos que nos proteja nesse momento. Sim, por incrível que pareça ao Sr., nós também somos seres humanos, não fomos estuprados quando crianças e não somos drogados (alguns, infelizmente foram), mas somos vítimas de preconceito quase todos os dias. Mesmo pagando os mesmos tributos que todo mundo (sabe aquela grana que engorda seu bolso todo o mês, pois bem...), somos vítimas de patrões, colegas de trabalho, professores, amigos de escola, motorista de ônibus, gerente de banco que têm o prazer de nos humilhar só porque somos diferentes da concepção machista de homem que a eles foi imposta. O sentimento de ser rejeitado por um motivo de sua natureza é doloroso. E tenho certeza que o Sr. conhece essa dor. Talvez um dia alguém tenha dito que por mais dinheiro que tenha ou cargo que exerça, o Sr. vai continuar sendo um feio sem graça, só porque o Sr. não responde ao padrão de beleza presente na mídia. Eu entendo sua dor, pois quando sou classificado pela minha sexualidade, sinto-me menor, inferior. Mas eu te respeito por não ter um rosto do Tom Cruise, afinal, Vossa Excelência nasceu assim, e não é sua culpa, assim como não é culpa de ninguém o fato de eu ser gay.

Então, por favor, defenda sua opinião com um pouco mais de embasamento, não use esse discurso cuspido e sujo para conseguir o que quer. Há pessoas por trás de tudo isso e pessoas com sentimento. Minha dica é: grite menos, estude mais e fale com conhecimento em mente. Com essa liçãozinha alá Ana Maria Braga sua vida vai dar um UP.

Mauricio Miranda

Para quem quiser ver o velho, mas bem visto, discurso do Maltinha, clique aqui.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Revista Free um cacete!


Hoje é dia! Agora vem essa revista, sabe se lá de onde chamada Free falar que um dos 10 motivos para não votar na Soninha é porque ela apoia homossexuais. Senhor Ernesto Zanon, diretor de redação da revista, eu muito espero que o senhor esteja no mínimo envergonhado dessa reportagem e sentindo que o Sr. assinou a maior cagada de sua carreira, porque do contrário, você não é um jornalista.

Como pode um jornalista e editor assinar uma reportagem tendenciosa e veladamente opinativa como essa? Preciso lembrar de uma frase do seu chefe, o Sr. Luciano Maciel, dada a um jornal quando a revista foi apreendida, em junho deste ano: “Não estamos brincando de casinha, estamos fazendo trabalho jornalístico”. Trabalho jornalístico não é dizer que o sétimo motivo para não votar em uma candidata é: "sempre se mostrou defensora dos direitos dos homossexuais.".

Eu gostaria de perguntar ao Sr. Zanon como o direito dos homossexuais afeta a cidade de São Paulo? Será que isso aumentaria o índice de crime em São Paulo? Elevaria os casos de corrupção? Aumentaria o trânsito da cidade? Acabaria com a educação? Pergunto mais: como pode o apoio a uma minoria que também é composta por cidadãos que pagam impostos (e altos) estar no mesmo nível do não apoio a instalação de ciclo vias na cidade (como mostra o box sobre o candidato Paulinho da Força)? São coisas completamente diferentes, que qualquer aula de sociologia, antropologia e política te ensinaria a não colocar na mesma matéria.

As pessoas até podem não gostar de gays e homossexuais (e neste caso meu conselho é: não case ou namore um), podem xingar, expressar a opinião deles, dizer que têm nojo, o que for, mas nunca tirar o direito de cidadão que temos, somos seres humanos também e não somos uma praga que vai destruir a cidade, pelo contrário, somos uma importante fatia da população e do bolso dessa cidade.

Seu “jornalismo” foi tão medíocre e sujo quanto à pesquisa que o Data Folha publicou recentemente dizendo que a maioria dos gays durante a parada deste ano em São Paulo eram Corintianos. Que problema tem se são Corintianos ou São Paulinos? Eles são seres humanos e estão no mesmo barco que todo mundo, pegando metrô todos os dias, dirigindo em trânsito caótico, lutando por uma vida melhor. Mas o Data Folha tratou de corrigir o problema e tirar a pesquisa o mais rápido possível da internet, isso porque alguém com um pouquinho mais de massa crítica foi apitar nos ouvidos do editor. Mas no caso de vocês, não acredito que haja massa crítica suficiente para recolher a edição e pedir desculpas a comunidade gay. Mas, vocês podem contratar alguém mais inteligente, como um sociólogo, que pode ajudá-los a escrever um bom editorial ensinando para os leitores e para vocês mesmos a diferença entre lutar pelo direito de cidadãos (neste caso uma minoria) e ter o nome atrelado a um escândalo político. Quando aprenderem a lição, tenho certeza que poderão chamar a revista de vocês de jornalismo. Até isso acontecer, sinto muito em dizer, mas vocês continuam brincando de casinha com faca de verdade.

Fica aqui minha dica e minha revolta.

Mauricio Miranda